Já sob pressão pelo número cada vez maior de vítimas da guerra em Gaza, Israel ficou ainda mais isolado internacionalmente nesta quarta-feira (22), após três países europeus romperem com seus principais parceiros da UE e decidirem reconhecer um Estado palestino.
Foto: Reuters
Descrita por um porta-voz do governo israelense como “obscena”, a decisão terá pouco impacto prático nas ruínas de Gaza ou na ocupada Cisjordânia. Espremida por Israel e sem dinheiro, a Autoridade Palestina na Cisjordânia sofre para pagar seus próprios funcionários públicos.
O movimento desses países ocorre após um constante acúmulo de problemas, desde os alertas de Washington de que reteria armas caso a guerra em Gaza continuasse, sanções contra colonos violentos, e acusações de genocídio diante da Corte Internacional de Justiça até um possível mandado de prisão para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu no Tribunal Penal Internacional.
Netanyahu é contrário
O próprio Netanyahu descreveu a decisão dos três países como um “prêmio ao terrorismo” e disse que um Estado palestino “tentaria repetir o massacre de 7 de outubro várias vezes”.
O comentário destaca como está amargo o clima em torno da guerra em Gaza e o quão distantes parecem as perspectivas de um acordo político baseado na existência de um Estado palestino independente ao lado de Israel, com as negociações de paz aparentemente bloqueadas e com poucas esperanças.
Além de chamar de volta seus embaixadores de Oslo, Madri e Dublin, o Ministério das Relações Exteriores convocou os embaixadores norueguês, irlandês e espanhol em Israel para assistirem imagens de vídeo do ataque a Israel por homens armados liderados pelo Hamas em 7 de outubro.
Laura Blumenfeld, analista do Oriente Médio na Johns Hopkins School for Advanced International Studies, em Washington, disse que a decisão dos três países foi “diplomaticamente ousada, mas emocionalmente surda e improdutiva”.
“Para os israelenses, isso aumentará a paranoia, reforçando o argumento de Netanyahu de que os israelenses estão sozinhos”, disse ela. “Para os palestinos, isso aumenta falsamente as expectativas, sem definir um caminho para a realização de sonhos nacionais legítimos.”
Preço a longo prazo
O preço de longo prazo para Israel por impedir os movimentos em direção a um Estado palestino, no entanto, pode ser mais pesado, a começar pela meta valorizada de normalizar as relações com a Arábia Saudita, principal objetivo da política externa de Netanyahu antes do ataque.
Para os israelenses, as imagens de 7 de outubro, quando homens armados liderados pelo Hamas invadiram comunidades ao redor da Faixa de Gaza, matando cerca de 1.200 pessoas e levando cerca de 250 reféns para o cativeiro, continuam profundamente traumáticas.
Mas, fora de Israel, as imagens do sofrimento em Gaza, onde a implacável campanha israelense lançada em resposta matou mais de 35.000 palestinos e destruiu grande parte do enclave, ajudaram a alimentar um movimento de protesto em expansão nos campi universitários dos EUA e nas ruas das cidades europeias.
Tanto para o governo dos EUA quanto para os de outros países, como a Alemanha, que tradicionalmente têm sido amigáveis com Israel, os protestos, muitas vezes furiosos, têm imposto um custo político cada vez mais alto.
Ambos afirmam que o reconhecimento de um Estado palestino deve ser o resultado de negociações e não de declarações unilaterais, e outros países europeus importantes, como a França e o Reino Unido, também se recusaram a se juntar ao trio que concedeu o reconhecimento.
Com informação do Reuters
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