O partido político autoritário mais poderoso do mundo completa 100 anos. O Partido Comunista Chinês (PCCh) foi fundado em julho de 1921 em um pequeno salão no distrito de Xangai – então controlado pela França – com apenas 13 pessoas presentes, de acordo com a história oficial.
Hoje, ele tem mais de 95 milhões de membros – quase 7% da população do país – e coordena a segunda maior economia do mundo, que está a caminho de ultrapassar os Estados Unidos na próxima década. A seguir, listamos dez momentos decisivos dos 100 anos do PCCh.
O nascimento de um partido (1921)
No início da década de 1920, a China estava um caos. Seu primeiro governo republicano desmoronou em menos de dez anos após a subida ao poder e queda do último imperador da dinastia Qing. O país foi dividido por lutas internas entre poderosos senhores da guerra, cada um governando uma região com seus próprios exércitos, e uma fome devastadora matou centenas de milhares de pessoas no norte do país.
Enquanto isso, o Partido Nacionalista, conhecido como Kuomintang (KMT), tentava sem sucesso reunificar o país sob um governo central. Nesse ambiente, pequenos grupos atraídos pela ideologia comunista emergiam por todo o país, inspirados pelo escritor socialista Karl Marx e pelo revolucionário russo Vladimir Lenin.
Os grupos se encontraram pela primeira vez em Xangai em 23 de julho de 1921, quando (de acordo com seu registro oficial) o partido consistia apenas em cerca de 50 pessoas. A pauta? “Derrubar a burguesia por meio do exército revolucionário do proletariado”, segundo a história oficial do partido.
Anos depois, apenas dois homens daquela reunião estariam presentes na fundação da República Popular da China em 1949: Mao Zedong e Dong Biwu. O resto havia morrido, deixado o partido ou caído em desgraça. Na época, o significado do encontro não era conhecido. O partido comemora o aniversário hoje, 1º de julho, porque há anos contesta a data real da primeira reunião.
A Grande Marcha (1934)
A Longa Marcha de 10 mil quilômetros não foi apenas um ponto de virada na história do PCC, mas também resultou no estabelecimento de Mao como o líder indiscutível do partido.
Para os historiadores do PCCh, foi um período heroico no qual o partido perseverou até o fim para emergir triunfante. Para seus críticos, foi um desastre militar que custou dezenas de milhares de vidas. Em 1934, o KMT – sob o comando de Chiang Kai-shek – havia assumido o controle majoritário da China, mas ainda lutava contra as forças de guerrilha do principiante Partido Comunista.
Por fim, o oprimido exército comunista foi forçado a fazer uma longa retirada de sua base no sul para o norte da China. Ao longo do caminho, a antiga liderança do PCC foi derrubada, enquanto Mao liderava as tropas restantes por 18 cadeias de montanhas e 24 rios, constantemente sob ataque do exército nacionalista, de acordo com o partido.
Aproximadamente 100 mil pessoas partiram na Longa Marcha, incluindo 75 mil soldados e 20 mil não combatentes. Apenas 7 mil finalmente alcançaram a segurança na cidade de Yan’an e ali sobreviveram. De Yan’an, o PCCh se reconstruiu sob Mao, dando início de um culto à personalidade no partido – possivelmente renascido hoje sob o atual líder Xi Jinping.
Fundação da República Popular da China (1949)
A invasão japonesa da China às vésperas da Segunda Guerra Mundial interrompeu o plano do KMT de erradicar os insurgentes comunistas. As forças de Mao e Chiang cancelaram sua luta em 1937 para cooperar na vitória da Guerra Sino-Japonesa, mas, com a derrota de Tóquio em 1945, todas os acordos caíram por terra.
Tirando vantagem da corrupção e da incompetência militar do governo nacionalista, as forças comunistas de Mao derrotaram consistentemente a oposição e ganharam o apoio popular prometendo terras à grande classe camponesa da China. Depois de perder uma sangrenta guerra civil, Chiang e suas forças restantes fugiram para Taiwan, começando um impasse entre Taipei e Pequim que permanece até hoje, com o PCCh reivindicando a ilha como seu território.
Em 1º de outubro de 1949, Mao estava no topo de Tiananmen – a “Praça da Paz Celestial” – em Pequim e anunciou a criação de uma “nova China”, a República Popular da China (RPC).
A Revolução Cultural (1966)
O fracasso do “Grande Salto Adiante” enfraqueceu o controle de Mao sobre o poder. Então, ele lançou uma campanha para destruir seus rivais políticos e criar lealdade total dentro do partido.
Sem avisar, Mao afirmou que grupos opostos à ideologia comunista haviam se infiltrado no partido e precisavam ser eliminados.
Seus apelos para eliminar “contrarrevolucionários” e “direitistas” saíram rapidamente de controle. Multidões de estudantes, agora conhecidos como Guardas Vermelhos, atacavam qualquer um que acreditava abrigar ideais burgueses ou hábitos imperialistas.
Estudantes de todo o país se voltaram contra seus professores, a quem acusaram de serem capitalistas ou traidores. Qualquer um que caísse em desgraça com as turbas era torturado e humilhado, forçado a confessar publicamente. Outros eram trancados em campos improvisados, alguns morreram como resultado de torturas, e por fim alguns se mataram.
Conforme a situação piorava, diferentes grupos de Guardas Vermelhos começaram a lutar entre si, usando armas do Exército de Libertação Popular. O caos finalmente terminou com a morte de Mao em 1976. A Revolução Cultural é amplamente reconhecida como uma catástrofe que poderia ter resultado em milhões de mortes, segundo algumas estimativas.
Em 1981, o Partido Comunista aprovou uma resolução dizendo que a Revolução Cultural “foi responsável pelo retrocesso mais severo e pelas perdas mais graves sofridas pelo partido, pelo Estado e pelo povo desde a fundação da República”.
O Massacre da Praça Tiananmen (1989)
À medida que a economia da China se abriu, a corrupção piorou e algumas pessoas começaram a exigir maiores liberdades. A liberalização econômica estava enriquecendo lentamente a China, mas o partido ainda controlava muitos elementos da vida pública, restringindo a liberdade de expressão e as viagens internacionais.
Em abril de 1989, um popular político liberal chinês desencadeou uma onda de protestos pró-democracia em todo o país, o maior dos quais foi realizado na Praça Tiananmen.
O debate interno sobre a resposta aos manifestantes no alto escalão do partido terminou em 20 de maio, quando a liderança declarou a lei marcial.
Duas semanas depois, em 4 de junho, o exército chinês apontou suas armas para seu próprio povo. O número oficial de mortos do governo foi de 241 pessoas, incluindo soldados, mas grupos de direitos humanos estimam que milhares poderiam ter morrido somente em Pequim.
A repressão do PCCh inicialmente levou a sanções e condenações internacionais, mas as considerações econômicas falaram mais alto e a integração da China na economia mundial foi reiniciada.
China adere à Organização Mundial do Comércio (2001)
A China começou a ter um crescimento rápido, mas seu potencial era limitado por uma peculiaridade: o país não era membro da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A OMC regula o comércio entre os países membros, que podem chegar a melhores acordos com outros países dentro do território nacional. Mas, na década de 1990, apesar de suas novas políticas, a China ainda estava longe de ser uma economia de mercado.
Foram 15 anos de negociações antes da autorização de entrada na OMC, com a bênção do governo dos Estados Unidos. Em troca, a China teve que concordar com uma maior liberalização de sua economia, incluindo a remoção de certas tarifas e uma promessa de proteger a propriedade intelectual.
Depois que a China aderiu oficialmente em dezembro de 2001, a economia do país começou a crescer. Em 2000, o crescimento anual do PIB da China foi de 8,5%; em 2007, havia subido para quase 15%.
Xi Jinping assume o poder (2012)
Quando Xi Jinping se tornou secretário-geral do Partido Comunista, seu mandato foi saudado com uma atitude geral, embora cautelosa, de otimismo.
Alguns, incluindo a então secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, pensaram que ele seria um reformador liberal. O ex-primeiro-ministro de Singapura, Lee Kuan Yew, disse sobre Xi, que é filho de um ex-vice-primeiro-ministro chinês: “Eu o colocaria na classe de pessoas de Nelson Mandela”.
Na realidade, Xi se tornou um dos líderes mais poderosos da China desde a fundação da República Popular, levando o partido a uma liderança baseada na personalidade.
Xi tem mais títulos do que qualquer um desde Mao; ele não apenas dirige o partido, o estado e os militares, mas também vários supercomitês encarregados de tudo, desde a segurança nacional até a reforma econômica.
O “pensamento de Xi Jinping” foi incluído na constituição da China.
Com informação da CNN Brasil
Fotos: divulgação
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