O norueguês Jon Fosse (1959) venceu o Prêmio Nobel de Literatura 2023 por “suas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível”, segundo a Academia Sueca, que acaba de fazer o anúncio. Fosse é considerado um “Beckett do século 21″.
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“Sua imensa obra escrita em Nynorsk norueguês e abrangendo uma variedade de gêneros consiste em uma riqueza de peças, romances, coleções de poesia, ensaios, livros infantis e traduções. É um dos dramaturgos mais representados no mundo, e tem se tornado cada vez mais reconhecido por sua prosa”, destacou Anders Olsson, presidente do comitê do Nobel de Literatura.
“Fosse combina o enraizamento na linguagem e na natureza de sua formação norueguesa com técnicas artísticas na esteira do modernismo”, disse ainda.
‘Para um escritor, escrever mal é um pecado’, disse Jon Fosse, ganhador do Nobel, ao Estadão; leia
Tradicionalmente, os organizadores do prêmio ligam para o escolhido antes do anúncio oficial. Segundo o secretário permanente da Academia Sueca, Jon Fosse, de 64 anos, “estava dirigindo pelo campo, em direção ao fiorde ao norte de Bergen, na Noruega”.
O valor do prêmio é de cerca de R$ 5 milhões (11 mil coroas suecas).
Vida e obra de Jon Fosse
Nascido em 29 de setembro de 1959, em Haugesund, na Noruega, Jon Fosse cresceu em Strandebarm. Aos 7 anos, ele sofreu um acidente e chegou a comentar que esta foi a experiência mais importante de sua infância e que o transformou em um artista. Antes de se tornar um escritor, ele cogitou ser guitarrista de uma banda de rock.
Ele cresceu em uma família adepta do pietismo, um movimento espiritual protestante. Seu avô era quacre, pacifista e esquerdista ao mesmo tempo. O escritor se distanciou dessas crenças e preferiu se definir a princípio como ateu. Em 2013, se declarou católico.
Fosse é um escritor multifacetado, mas pouco acessível ao grande público. Apesar disso, é um dos autores de teatro com mais peças representadas na Europa e considerado um dos um dos grandes autores de sua geração.
O norueguês estreou na literatura em 1981, com o conto Han em um jornal estudantil. Dois anos depois, em 1983, ele lançou seu primeiro romance, Raudt, Svart. É autor, ainda, de Trilogien, vencedor do Nordic Council Literature Prize, em 2015.
Nas décadas de 1990 e início dos anos 2000, ele dedicou mais ao teatro. Por volta de 2010, mergulha na literatura. Sua obra é composta por cerca de 40 peças, entre as quais Og aldri skal vi skiljast (E Nunca nos Separemos), a primeira encenada, em 1994, e Nokon kjem til å komme (Alguém vai chegar), a primeira que ele escreveu, e que lhe deu fama como dramaturgo, além de 16 livros de prosa, 8 de poesia e dois de ensaios. Seus livros já foram traduzidos para mais de 50 idiomas.
Livros e peças de Jon Fosse no Brasil
Acaba de chegar às livrarias, pela Companhia das Letras, É a Ales, “um romance hipnótico”. E no fim de outubro, a Fósforo - editora também de Annie Ernaux pré-Nobel - publica o romance Brancura.
Trata-se, segundo a sinopse, de “um breve romance em que a atmosfera onírica se mescla à transcendência, um homem começa a dirigir sem rumo e, desconhecendo as próprias motivações, conduz seu carro até uma floresta. Logo escurece e começa a nevar. Obedecendo à lógica trágica e misteriosa que opera nos pesadelos — ou no encontro inescapável com o destino —, em vez de procurar ajuda, ele decide se aventurar pela mata escura, onde se depara com um ser de brancura reluzente”. Leia um trecho de Brancura.
Em 2013, o Satyros montou a peça Adormecidos. Outras peças do autor já tinham chegado aos palcos brasileiros, como Noturnos, por Mario Bortolotto, entre outras.
O trabalho de Jon Fosse é minimalista e baseado numa linguagem serena que transmite a sua mensagem por meio do ritmo, da melodia e do silêncio. E seu estilo é caracterizado por inúmeras projeções temporais e pontos de vista alternados, que se tornaram sua marca registrada.
Com informação do Estadão
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