13/06/2023

A história dos Beatles é inesgotável. Os avanços tecnológicos permitiram que continuasse a ser construído e a dar vida a cada peça arqueológica —uma foto esquecida, uma gravação caseira, um modelo antigo— que os quatro músicos de Liverpool deixaram.

Paul McCartney anunciou esta terça-feira na Radio 4 , a estação da BBC, que a utilização de inteligência artificial vai permitir a produção e publicação, no final deste ano, da "última música" do grupo.

McCartney, a força motriz por trás da formação de mãos dadas com John Lennon, não quis revelar do que se trata, mas pistas anteriores sugerem que seria Now and Then.

Lennon gravou um punhado de canções em um aparelho de som em 1978, sentado ao piano em seu apartamento em Nova York. 16 anos depois, a viúva do cantor - assassinado em dezembro de 1980 no portão do prédio Dakota -, Yoko Ono, deu a McCartney uma maquete com a inscrição For Paul (para Paul) que continha algumas das canções criadas em seus últimos dias.

Evidentemente não foi a " Pedra de Roseta " que finalmente revelaria as chaves do Fab Four. É difícil extrair algo novo de um grupo idolatrado e explorado comercialmente repetidas vezes.

 Duas das canções dessa maquete, Free As a Bird y Real Love , foram limpadas y remasterizadas pelo produtor, Jeff Lyne, y publicadas em 1995 y 1996, como parte do novo material de The Beatles que surgiu em 25 anos.

Mas Now and Then, uma canção de amor e desculpas escrita e interpretada por Lennon, parecia irredimível. Tinha um refrão, mas apenas alguns versos. Não havia como completá-lo, e alguns membros da banda, como George Harrison (falecido em 2001 ), consideraram que "era uma porcaria".

"George não gostou, e os Beatles eram uma democracia, então não fizemos nada com isso", explicou McCartney. Embora ele tenha visto uma beleza escondida naquela música.

O trabalho da IA

Quando o diretor Peter Jackson apresentou seu documentário Get Back , em 2021, o editor de diálogos Emile de la Rey conseguiu, por meio da tecnologia da computação e do processo de aprendizagem por computador, que as vozes dos quatro músicos pudessem ser reconhecidas e isoladas do constante ruído de fundo.

 Esta técnica tem permitido o resgate de material não utilizado. McCartney, por exemplo, conseguiu fazer um dueto com Lennon dessa forma em sua última turnê.

“De uma fita cassete com uma gravação muito ruim, [a IA] conseguiu extrair a voz de John. Tínhamos a voz dele e o piano. Eles conseguiram separá-los. Temos a voz de John em sua forma mais pura e conseguimos mixar a gravação, para que se torne a última dos Beatles", explicou McCartney à BBC.

O uso da inteligência artificial no processo criativo dos músicos tem gerado um intenso debate, com detratores como Sting , que tem alertado para a ameaça que, segundo ele, as novas tecnologias representam.

Ou bandas como Pet Shop Boys , que consideram uma ajuda positiva —que pode ser usada ou descartada— na hora, por exemplo, de terminar uma música que talvez tenha sido relegada a uma gaveta por estar incompleta.

Uma pequena ajuda para a inspiração. Ou, como naquelas grandes obras que museus como o British Museum colecionam hoje: incompletas e reconstruídas com base em acréscimos de gesso ou fotografias. Paul, John, George e Harrison nunca se reuniram para gravar Now And Then. Já é impossível. Mas, para quem nunca se cansa de ouvir sua música, é um presente.

Com informação do jornal El País