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Inflação alta e menor poder de compra para o Brasil em 2022, veja



Inflação alta e menor poder de compra para o Brasil em 2022, veja

28/12/2021




Ao final de todo ano, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima e reajusta qual o valor ideal para o salário-mínimo no Brasil. A pesquisa mais recente, de novembro, revelou que, em 2021, a quantia deveria ser de R$ 5.969,17.

 

 

 

 

 

O Congresso, entretanto, aprovou na última semana o valor de R$ 1.211,98, com apenas a correção da inflação, que deve ultrapassar os 10%.

 

 

Este é o terceiro ano seguido em que o trabalhador não terá aumento real no valor do salário-mínimo, e a Sputnik Brasil foi descobrir as consequências disso.

 

 

Para o governo que promete um novo ciclo de crescimento a partir de 2022, é preciso entender se o Brasil de fato está neste trilho, e como ficarão as pessoas que já recebem pouco diante do progressivo aumento nos preços dos alimentos.

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, acredita que o crescimento do país incluirá os mais pobres. Ele disse, em novembro, que uma recessão em 2022 só pode ser "estimada por pessimistas".

 

 

A pesquisadora Patrícia Costa, supervisora do Dieese, seria uma "pessimista" na avaliação do ministro.

 

 

Em entrevista para a Sputnik Brasil, ela falou sobre a importância do salário-mínimo para impulsionar o consumo e o crescimento econômico, e quais foram os erros do governo na condução da inflação.

 

Ela entende que o cenário econômico do país para 2022 "é o pior dos mundos, com inflação alta e sem crescimento".

 

 

Onde foi que erramos?

 

Embora o prognóstico de Patrícia Costa, ao olhar para o quadro econômico brasileiro a partir do ano que vem, seja de grandes dificuldades (e em especial para os mais pobres), Paulo Guedes avalia que há um pessimismo exacerbado ante as avalições sobre o Brasil. Para ele, é preciso ressaltar que o país "registrará desempenho positivo do PIB (Produto Interno Bruto)".

 

 

Além disso, ainda segundo Guedes, "a alta da Bolsa de Valores indica que o mercado não levou a série uma hipótese de nova recessão no Brasil. Entramos em recessão técnica, o PIB caiu 0,1% neste trimestre. Porém, a Bolsa subiu 3%. Se alguém tivesse levado a sério que o PIB vai cair, a Bolsa não estava caindo".

 

 

A crença do ministro, na avaliação de Patrícia Costa, é equivocada. Além de afirmar que "o momento é muito complicado", ela apontou que o principal erro do governo de Jair Bolsonaro para agravar este cenário "foi abandonar a política de valorização do salário-mínimo, que é tão importante".

 

 

Ela disse ainda que "essa é uma das razões para o não crescimento da economia".

 

 

Patrícia Costa avalia que a política de valorização do salário-mínimo é importante porque ela sinaliza quando o rendimento dos empresários pode subir, gerando pesquisa, crescimento e investimentos.

 

 

"As famílias que ganham menos estimulam o consumo, criando mais desenvolvimento e empregos", comentou.

 

 

Paulo Guedes associa o futuro do Brasil e o seu otimismo sobre o tema às futuras privatizações que o governo federal pretende fazer em 2022.

 

 

Ele também conta com o "poder" da chegada do Auxílio Brasil na economia, o aumento dos investimentos em infraestrutura, e os programas de contenção de gastos públicos.

 

 

Embora sua estratégia tenha sido aprovada pelo Congresso, o Brasil seguirá como 11ª maior economia do mundo em 2022, conforme previsão do relatório anual do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, na sigla em inglês).

 

 

Intervenção nos preços: o dilema dos economistas

 

O instituto do Reino Unido considerou que, "além dos problemas nas cadeias de produção e altos preços da energia, a fraqueza da moeda do Brasil é um fator adicional de pressão na inflação".

 

 

Em verdade, o real perdeu cerca de um quarto do valor desde o começo da pandemia, em 2020. Outras projeções apontam que a economia do Brasil crescerá até 1,5% em 2022, muito abaixo dos maiores países do globo.

 

 

Para Patrícia Costa, os erros do governo federal para que chegássemos a estes números foram muitos, porém, pesou a ausência de uma política de Estado para controlar os preços de alguns itens que são essenciais para a cadeia de abastecimento do Brasil.

 

 

A pesquisadora defende uma política de intervenção nas exportações do Brasil, sobretudo para reduzir o constante aumento nos preços dos alimentos.

 

Ela explicou que, desde 2019, o governo federal "abandou políticas que poderiam mitigar o aumento nos preços dos alimentos", em especial as ferramentas "que estimulam os estoques reguladores, assim como a agricultura familiar, apresentando uma proposta [via PEC dos Precatórios] que é fraca para o desenvolvimento deste segmento da economia".

 

 

"Estamos em um momento de ascensão de preços, principalmente de itens básicos, como gasolina, alimentação, o gás e a energia. Não há sinalização de que os alimentos terão intervenção governo federal. Portanto, teremos uma inflação ascendente em 2022", comentou a pesquisadora.

 

A importância do salário-mínimo

 

A supervisora do Dieese comentou que "o governo faz um diagnóstico equivocado e trata essa inflação como problema de demanda, porque o aumento dos juros joga a economia em uma recessão, e não resolve a inflação, que está associada ao aumento dos custos em geral".

 

Com isso, explicou, "o brasileiro começa o ano como ele terminou: perdendo o seu poder de compra".

 

 

 

Este problema, na opinião da pesquisadora, é negligenciado pelo Ministério da Economia, que, embora esteja contente com os números da exportação de carne, soja e outras commodities, parece cruzar os braços ante ao aumento considerável da gasolina. Com isso, pequenos reajustes no salário-mínimo serão inócuos no orçamento das famílias mais pobres, pois os preços continuarão subindo.

 

 

"Estamos dando em janeiro [de 2022] um reajuste passado. Ao longo do ano, o salário-mínimo não foi composto pelo seu valor original e foi perdendo valor. Em dezembro, o nosso salário vale 10% a menos do que valia no início do ano. Se não houver controle da inflação, o salário continuará caindo", comentou.

 

 

Patrícia Costa apontou que, segundo dados de novembro de 2021, "a cesta básica de alimentos em Santa Catarina, a mais cara do país, custa cerca de R$ 710. Se a gente pensa que essa é a alimentação de uma família para um mês, com dois adultos e duas crianças, é preciso multiplicar essa cesta por três. Com isso, a gente chegaria na conta de R$ 2.100. Colocando outras variantes na conta das famílias, outros gastos, fica claro que isso não sabe no orçamento familiar".

 

 

Economista: inflação no Brasil é complexa e não se resolve apenas com taxa SELIC

 

A cesta básica é composta por 13 itens alimentícios e serve como base para o cálculo do valor do salário-mínimo necessário para a sobrevivência de um trabalhador e de sua família.

 

A alta dos preços atingiu todos os setores da alimentação e a desvalorização do real frente ao dólar foi um dos motivos que mais pressionou o indicador.

 

Apesar de o Brasil ser um exportador de alimentos, o fato de ter uma moeda norte-americana muito valorizada faz com que o produtor queira exportar, diminuindo a oferta local. Já o que importamos, com dólar alto, também ficou mais caro em 2021.

 

 

Qual o salário-mínimo ideal?

 

Patrícia Costa explicou que o salário-mínimo deveria "garantir alimentação, moradia e acesso a lazer, educação e saúde".

 

 

Ele é calculado com base nos preços da cesta básica, particularmente sobre a cesta mais cara do país. A pesquisadora disse ainda que o problema é que o "salário-mínimo não é importante para este governo, assim como não foi a vacinação".

 

 

Ela comentou que a gestão de Paulo Guedes "priorizou os lucros do agronegócio e os preceitos macroeconômicos, ainda que isso tenha dado errado, pois a inflação não está equilibrada".

 

 

Segundo ela, o "Brasil é o pior dos mundos, com inflação e sem crescimento", mas este quadro recessivo, vale lembrar, o Ministério da Economia ainda rejeita.

 

 

Por questões ideológicas, Paulo Guedes se opõe às intervenções do Estado nas relações entre empregadores e empregados, e também acredita que o salário-mínimo pode prejudicar os pequenos negócios, pois abaixa a competitividade no mercado e reduz a quantidade demandada de trabalhadores.

 

 

Longe de qualquer consenso, o tema, como se vê, seguirá dominando a agenda política do país nos próximos anos.

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