Manifestantes ergueram barricadas, acenderam fogueiras e dispararam fogos de artifício contra a polícia nas ruas francesas durante a noite desta sexta-feira (30/6) à medida que cresciam as tensões sobre a morte de um jovem de 17 anos pela polícia que chocou a nação.
Mais de 600 pessoas foram presas e pelo menos 200 policiais ficaram feridos enquanto o governo lutava para restaurar a ordem na terceira noite de protestos.
Veículos blindados da polícia percorreram os restos carbonizados de carros que foram virados e incendiados no subúrbio de Nanterre, no noroeste de Paris, onde um policial atirou no adolescente Nahel.
Do outro lado de Paris, manifestantes atearam fogo na prefeitura do subúrbio de Clichy-sous-Bois e incendiaram um depósito de ônibus em Aubervilliers. Na capital francesa também houve incêndios e algumas lojas foram saqueadas.
Na cidade portuária mediterrânea de Marselha, a polícia tentou dispersar grupos violentos no centro da cidade, segundo as autoridades regionais. O presidente Emmanuel Macron planejou deixar uma cúpula da UE em Bruxelas, onde a França desempenha um papel importante na formulação de políticas europeias, para retornar a Paris e realizar uma reunião de segurança de emergência na sexta-feira.
Detidos
Cerca de 40 mil policiais foram mobilizados para reprimir os protestos. A polícia deteve 667 pessoas, segundo o ministro do Interior; 307 delas foram detidas somente na região de Paris, disse a sede da polícia da cidade.
Conforme o ministério, 249 policiais e guardas ficaram feridos, nenhum deles com gravidade. Não há informações disponíveis sobre feridos entre o restante da população.
Escolas, prefeituras e delegacias de polícia foram alvo de pessoas que atearam fogo aos prédios, e a polícia usou gás lacrimogêneo, canhões de água e granadas de dispersão contra os manifestantes.
O Ministro do Interior, Gerald Darmanin, denunciou nesta sexta-feira o que ele chamou de uma noite de "rara violência". Seu gabinete descreveu as prisões como um aumento acentuado em relação às operações anteriores, como parte de um esforço geral do governo para ser "extremamente firme" com os desordeiros.
O governo não chegou a declarar estado de emergência - uma medida tomada para reprimir semanas de tumultos na França que se seguiram à morte acidental de dois meninos que fugiam da polícia em 2005.
O acusado
O policial acusado de puxar o gatilho na terça-feira, 27, recebeu uma acusação preliminar de homicídio voluntário depois que o promotor Pascal Prache disse que sua investigação inicial o levou a concluir que "as condições para o uso legal da arma não foram atendidas".
As acusações preliminares significam que os magistrados investigadores têm fortes suspeitas de irregularidades, mas precisam investigar mais antes de enviar o caso a julgamento.
O tiroteio capturado em vídeo chocou a França e despertou tensões há muito tempo latentes entre a polícia e os jovens em projetos habitacionais e outros bairros desfavorecidos.
"Temos que ir além de dizer que as coisas precisam se acalmar", disse Dominique Sopo, chefe do grupo de campanha SOS Racisme. "A questão aqui é como fazer para termos uma força policial que, quando vê negros e árabes, não tenda a gritar com eles, usar termos racistas contra eles e, em alguns casos, atirar na cabeça deles."
Com informação da Agência Estado
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