Edição Dulce Maria Rodriguez
O Dia Nacional da Consciência Negra homenageia e resgata as raízes do povo afro-brasileiro e é comemorado no Brasil no dia 20 de novembro. Depois de 133 anos da abolição da escravidão, a desigualdade social continua.
A luta da população negra no Brasil enfrenta a negligência do Estado diante da vulnerabilidade ate à ausência de políticas públicas específicas
Esta data foi restabelecida pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003, porque coincide com o dia 20 de novembro de 1695, dia da morte de Zumbi dos Palmares, grande líder da resistência negra e da luta pela liberdade.
Ainda é possível ver os reflexos da história de desigualdade e exploração da população negra. A maioria dos negros no Brasil pertence à classe média baixa. Eles sofrem com o racismo e com freqüência são vítimas de humilhações de várias formas na sociedade.
Segundo pesquisas do IBGE os afrodescendentes têm menos acesso à Previdência Social e conseqüentemente menor esperança de sobrevida no país, vivem em média 15 anos menos que os brancos.
Em todo o país, a expectativa de vida dos negros de ambos os sexos é de 67,03 anos.
As famílias brancas têm a renumeração com o salário médio de 5,25/h e as famílias de negros 2,43/h, ou seja, os brancos ganham mais que o dobro do salário da família negra.
Hoje o programa Bolsa Família é um dos principais responsáveis pela redução nas desigualdades sociais, sendo que 24% das famílias chefiadas por afrodescendentes (7,3 milhões) estão cadastradas no programa do governo federal.
Educação
O país tem uma lei que obriga as escolas a ensinarem temas relativos à história dos povos africanos em seu currículo.
Nas últimas décadas houve muitos avanços na área da educação, com o declínio do analfabetismo e aumento da escolarização e da escolaridade média, mas há muito que ser feito para alcançar níveis melhores de qualidade, eficiência e rendimento do ensino compatível com as necessidades atuais e futuras para o mercado de trabalho e o exercício da cidadania para a população jovem negra.
No ensino fundamental, a escolaridade dos brancos é de 6,7 anos e dos negros é de 4,5 anos, ou seja, os negros saem da escola antes do tempo para ajudar a família na renda familiar. No ensino superior, nem as cotas raciais fizeram crescer de forma significativa o acesso de negros e pardos às universidades brasileiras.
Consultora e palestrante de diversidade, equidade e inclusão, Arlane Gonçalves. Foto: CNN Brasil
História de sucesso
A consultora e palestrante de diversidade, equidade e inclusão, Arlane Gonçalves, fez vestibular para cursar Engenharia da Computação e, na primeira vez, não foi aprovada. Na segunda tentativa, por meio da lei de cotas, Arlane entrou na universidade.
À consultora conta que, posteriormente, trocou de curso e se graduou em Administração. Depois, assumiu o cargo de Costumer Service na Suzano, indústria de papel e celulose, e se tornando a única negra em um cargo de liderança na empresa.
Sem as cotas raciais, eu posso dizer com muita certeza de que eu não estaria aqui. Eu não teria acessado as oportunidades que eu tive.
Eu dificilmente teria cursado o ensino superior ou talvez até tivesse cursado, mas não em uma universidade tão bem-conceituada quanto a Universidade Federal de Goiás (UFG).
Acesso desproporcional
Mesmo em um cenário com cotas raciais, a especialista analisa que o acesso ainda é desproporcional à população de negros no país.
“Em um universo de 40 pessoas, cerca de cinco ou seis eram negras. Então, ainda assim, é uma porcentagem muito pequena, especialmente quando a gente compara com a porcentagem de pessoas negras no Brasil que é de 56%.
Arlane Gonçalves foi para o mercado de trabalho muito jovem e percebeu o quanto a falta de políticas de equidade racial nas empresas trouxe desafios para sua carreira. “A desigualdade racial foi um grande fator que me desfavoreceu em algumas corridas dentro do mundo coorporativo”.
Ela dá como exemplo a falta de estrutura e preparo para a recepção de diversidade nos ambientes de negócios, onde, na visão dela, falta treinamento e propostas de capacitação para este público se sentir mais bem acolhido, por exemplo, em processos seletivos afirmativos: trainees e programas de estágio voltado para pessoas negras.
“Dentro de uma organização, fazendo parte das iniciativas de diversidade de RH, presenciei a chegada de pessoas negras através destes programas que, como eu, lá no começo, não tinham nenhuma preparação. E quando chegaram lá dentro não tinha um programa de desenvolvimento feito para recebê-las e dar conta dessas necessidades e habilidades.”
Há ainda muito que se fazer para oferecer aos afro-brasileiros pleno acesso aos seus direitos humanos fundamentais, à liberdade de expressão e à igualdade racial. Para que ocorram significativas mudanças é necessário um esforço em conjunto das esferas federais, estaduais e municipais, assim como dos movimentos sociais e da sociedade civil como um todo, divulgou o portal Geledés.
Com informação da CNN Brasil
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