O dólar caiu pela sexta vez seguida ante o real e atingiu o menor nível em dois anos nesta quarta-feira (23). A moeda norte-americana perdeu 1,44% no dia, e fechou a R$ 4,8446 para venda, menor valor para encerramento desde 13 de março de 2020 (R$ 4,8128).
Em 2022, o dólar acumula queda de 13,11% frente à moeda brasileira, o que deixa o real com a melhor performance global acumulada até o momento.
Por que o real está se valorizando mesmo com uma guerra?
A coluna ouviu dois especialistas para explicar por que isso está acontecendo: a chefe de Economia da Rico Investimentos Rachel de Sá e o professor de Finanças do Coppead/UFRJ, Carlos Heitor Campani.
Rachel de Sá explica que apesar de um ambiente de guerra causar mais aversão ao risco, o que em tese seria negativo para países emergentes como o Brasil, que são considerados mais arriscados e afastaria os investidores estrangeiros, essa guerra tem a característica de envolver dois grandes produtores de commodities, Rússia e Ucrânia. Esses países produzem muitas commodities minerais, agrícolas, energéticas, como trigo, petróleo, alumínio e ouro, por exemplo.
Com a perspectiva de diminuição da produção desses países, os países produtores de commodities como o Brasil acabam se "beneficiando" dessa briga, já que os demais países irão comprar de quem não está em guerra e portanto tem produto para vender.
A economista explica também que o Brasil já vinha num movimento de valorização do real antes mesmo de a guerra estourar, porque com a volta do mundo aos normal após o pico da pandemia, os países voltaram a buscar commodities para produzir. Mas por conta da própria pandemia e por problemas climáticos, a produção de commodities já estava mais baixa.
Em Economia, quando um produto está em falta, seu preço aumenta. E é por isso que um país que produz algo que os demais estão precisando recebe mais dinheiro. Não é isso o que acontece no mercado da esquina? Se todo mundo quer comprar papel higiênico e o papel higiênico acaba, quem tem estoque vai poder aumentar o preço, porque os compradores vão disputar o produto. Essa é a chamada lei da oferta e da demanda e é o que acontece com tudo que é produzido e que tem valor econômico.
Como os estrangeiros estão trazendo dólar para comprar produtos em reais, existe maior oferta de dólar, seu preço cai e o a moeda brasileira se valoriza.
Alta dos juros no Brasil atrai capital estrangeiro
Outro fator que está atraindo também os investidores é a forte alta da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, que passou de 2% ao ano em março de 2021 para 11,75% ao ano em apenas 12 meses, e deve alcançar 12,75% ao ano já na próxima reunião do comitê de Política Monetária.
Quem explica esse movimento é o professor Carlos Heitor Campani, da Coppead/UFRJ. "Se o investidor internacional investir em dólar lá fora vai ganhar 2% por ano e olhe lá. E aqui nossa taxa está 11,75% ao ano, o que mesmo descontado o risco já representa um ganho real para o investidor", diz.
"O termômetro é a Bolsa brasileira, que nesse primeiro trimestre que ainda nem terminou já recebeu mais dólares do que no ano passado inteiro", diz.
Outro motivo para que o real esteja se valorizando é a percepção dos investidores de que o real está desvalorizado demais, ou seja, o Brasil está barato, é uma pechincha.
"O Brasil continua sendo um bom negócio e o investidor internacional está começando a achar que vale a pena o risco Brasil. Todos esses componentes juntos estão pressionando para o mesmo lado, para que o dólar caia e o real se fortaleça, diz Campani.
Real vai continuar caindo? Devo esperar para comprar a moeda?
A tendência é que esse movimento de alta do real não se sustente por um longo prazo, porque os Estados Unidos, por conta da inflação alta, têm anunciado que devem aumentar sua taxa de juros. Se isso acontecer, há uma tendência de os investidores tirarem dinheiro daqui e colocarem lá.
Outro ponto importante, lembram os especialistas, é que quem precisa da moeda porque terá gastos nela como viagens ou compras deve se proteger das altas fazendo o chamado preço médio, que significa comprar a moeda aos poucos aproveitando eventuais baixas.
"Mas nunca se deve tentar acertar o preço mínimo que uma moeda estrangeira pode alcançar, porque se pode perder muito dinheiro", alerta Rachel de Sá. Não se deve "comprar dólar, mas investir em dólar', diz.
Quem quer se proteger de eventuais variações do dólar não deve "comprar" a moeda papel físico, mas sim investir na moeda, em ativos que estejam atrelados ao dólar, como por exemplos fundos que investem em índices de bolsa estrangeira, ou comprando ações que se beneficiam de alta do dólar, explica Rachel.
Com informação da R7
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