O som da Colômbia é de medo e incerteza. Nas ruas de algumas cidades são ouvidos tiros que ecoam no escuro, correrias e gritos. O país vive nesta terça-feira mais um dia de violência que pôs em alerta os organismos internacionais.
A ONU e a União Europeia condenaram a brutalidade policial e pediram que os responsáveis pela repressão respondam por seus atos. Dezenove pessoas foram mortas, 87 estão desaparecidas e mais de 800 ficaram feridas desde quarta-feira passada, quando começaram os protestos contra uma reforma tributária que o presidente Iván Duque já retirou. O recuo do Governo não esfriou os ânimos.
As cenas mais chocantes vêm de Cali, onde ocorreu o maior número de mortes. Os choques entre a polícia e manifestantes foram constantes durante a noite. Há imagens de veículos blindados e helicópteros dispersando a multidão com gás lacrimogêneo e detonações de armas.
O primeiro andar de um hotel onde estavam hospedados policiais foi incendiado. Manifestantes ergueram barricadas nas principais estradas de acesso à cidade, e o aeroporto foi bloqueado. As prateleiras dos supermercados ficaram vazias. As autoridades abriram corredores para que Cali, de 2,2 milhões de habitantes, possa receber gasolina, remédios e alimentos.
Uso excessivo da força por parte da polícia
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que seus representantes no terreno testemunharam o “uso excessivo da força por parte da polícia”. A porta-voz do organismo, Marta Hurtado, disse em um comunicado à imprensa que os policiais utilizam munição real e espancam manifestantes.
“Segundo relatórios preliminares, os policiais mataram e feriram várias pessoas”, assinalou, acrescentando que isso ocorreu “no contexto de uma situação tensa e volátil em que alguns participantes dos protestos também foram violentos”.
Bruxelas também reagiu à crise colombiana. O porta-voz do Serviço Europeu de Ação Externa, Peter Stano, afirmou que a UE condena os atos de violência, que atentam “contra os direitos legítimos de manifestação e as liberdades de reunião e expressão”. Ele disse ter confiança nas instituições colombianas para investigar e colocar na prisão os responsáveis por qualquer abuso e violação dos direitos humanos.
Atos vandálicos
Os protestos, na maioria pacíficos, descambaram em algumas ocasiões para atos de vandalismo. Manifestantes queimaram ônibus e bancos e saquearam lojas. Segundo as autoridades, há mais de 400 policiais feridos. O presidente Iván Duque qualificou esses distúrbios como “terrorismo urbano de baixa intensidade”.
Com informação do jornal El Pais
Fotos: Juan Barreto e Luis Robayo / AFP
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