No primeiro pregão após os atos terroristas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou com leve alta, logo de uma abertura incerta e no vermelho, na contramão das bolsas internacionais.
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O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, chegou a atingir a mínima de 108.134 pontos, com queda de 0,76%, mas encerrou o dia com ganho de 0,15%, a 109.129 pontos.
Segundo analistas, embora a tensão política tenha afetado o comportamento dos investidores no início dos negócios, acabou prevalecendo a percepção de que a reação firme das autoridades mostrou que as instituições, e o próprio governo Lula, sairão fortalecidas dos ataques.
As ações de empresas relacionadas ao comércio e ao turismo foram as que mais se destacaram na B3, ontem. Os papéis das Americanas, da CVC e da Gol, subiram 6,44%, 4,98% e 4,07%, respectivamente, liderando as altas do dia.
O dólar, por sua vez, após subir cerca de 1%, perdeu força e fechou o dia com elevação de 0,40%, cotado a R$ 5,257, na contramão do exterior, onde a divisa norte-americana registrou baixa.
Resposta rápida
"É obvio que, a qualquer instabilidade do governo, o mercado fica mais nervoso. Mas, como a resposta foi rápida, os investidores, por enquanto, não estão visualizando essa instabilidade política como um fator que vai permanecer e se sustentar. Por isso, os mercados não reagiram mal", destacou Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos.
Na tarde de domingo, os atos de radicais bolsonaristas que invadiram, destruíram e saquearam as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), deixou agentes financeiros apreensivos, mas a nota conjunta dos Três Poderes, defendendo a democracia e a Constituição, repudiando os atos terroristas, e sinalizando união para que as providências institucionais sejam tomadas, nos termos da lei, acabou tranquilizando um pouco o mercado.
Ontem, as prisões de extremistas e o desmonte do acampamento bolsonarista instalado em frente ao quartel-general do Exército, foram o contraponto ao grau de depredação nos prédios oficiais.
"A percepção do investidor estrangeiro de que as instituições brasileiras saíram fortalecidas após o que aconteceu ajudou a evitar uma queda na Bolsa, e esse foi um dos motivos para o dia não ter sido tão ruim, porque não houve ruptura institucional", destacou Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa.
A desvalorização do real ainda mostrou, entretanto, que o mercado mantém o pé atrás em relação às incertezas políticas do país, por conta dos ataques em Brasília. A moeda norte-americana abriu em alta, mas diminuiu o ritmo após as respostas conjuntas dos Três Poderes, que acabaram diminuindo, em parte, os riscos políticos.
Ainda existem incertezas
Analistas lembram, contudo, que ainda existem incertezas em relação à questão fiscal. Uma situação mais equilibrada das contas públicas, que evite o crescimento da dívida, será fundamental para garantir um crescimento mais robusto do Produto Interno Bruto (PIB), que está em tendência de desaceleração.
A mediana das estimativas do mercado para o PIB deste ano, inclusive, recuou de 0,80% para 0,78% na pesquisa Focus, divulgada ontem pelo Banco Central. Os analistas estão atentos aos movimentos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que precisa apresentar um novo arcabouço fiscal, considerado fundamental para recuperar a credibilidade do governo no controle das contas públicas. A expectativa é de rombo de R$ 230 bilhões no Orçamento deste ano.
Eduardo Velho, da JF Trust, destacou que a intervenção federal na área de segurança do Distrito Federal também foi importante para a alta moderada na Bolsa e reduzir o ritmo de alta do dólar, ontem.
"Será crucial que Haddad anuncie um bom ajuste fiscal para sustentar a recuperação da Bolsa e superar de vez 110 mil pontos", pontuou. "Esse é o desafio, pois a inflação tende a ficar mais elevada em 2023, acima da atual mediana do mercado", acrescentou Velho, que prevê o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima de 6%, neste ano, e superior a 4% no ano que vem. "Do lado da inflação, o Banco Central deveria manter ou mesmo elevar a taxa básica de juros. Por isso, esse ajuste fiscal pode ser o fator chave para dar uma chance de redução dessas taxas até o final de 2023", completou.
Com informação do Correio Braziliense
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