Aos 60 anos de idade, a autônoma Margareth Acris vive uma vida tranquila e despreocupada. Mas não foi sempre assim. Ela é membro de uma família onde doenças cardíacas são comuns e sofreu, durante muitos anos, com crises de arritmia, dores no tórax e até desmaios. Uma simples ida ao shopping ou dirigir um veículo eram coisas proibidas para ela, por causa dessa condição.
Acris precisou passar por uma ablação, procedimento para corrigir as vias elétricas do coração. Mas antes disso, percorreu um longo caminho até o diagnóstico correto. De acordo com os prontuários, os primeiros sintomas incluíam aceleração cardíaca, falta de ar e desmaios, mas no começo ela não identificava a condição como arritmia. Só que as dores intensas no peito e nas costas se tornaram mais frequentes. A progressão dos sintomas incluiu o desenvolvimento de miocardite (inflamação do miocárdio).
Pela primeira vez em Manaus
Margareth foi uma das duas pacientes que passaram pelo mesmo procedimento no FHCFM, um tratamento da fibrilação atrial. O responsável por executá-los foi o especialista em Eletrofisiologia e Cardiologia, Dr. Jaime G. Arnez. Ele explicou que a enfermidade é uma das principais causadoras de acidentes vasculares cerebrais e insuficiência cardíaca.
Para as intervenções cirúrgicas, o médico usou a tecnologia Farapulse. O procedimento se inicia pela introdução de um cateter por uma veia da perna do paciente e é conduzido até o coração. Com o Farapulse, o cateter utiliza a tecnologia de ablação por campo pulsado (PFA) para inativar as células cardíacas causadoras da arritmia. Por ser uma energia seletiva, realizada apenas a estas células, danos a outras estruturas próximas ao coração são evitados, como a parede do esôfago e o nervo frênico. Além disso, o procedimento tem uma duração média de 58 minutos.
“É uma tecnologia nova, são procedimentos mais rápidos e seguros. Os resultados são tanto quanto iguais a outras, mas ela traz mais agilidade e segurança. A particularidade dela é tratar a fibrilação atrial; então, você tratando ela, evita outros desfechos, como mortes”, disse o médico.
O Farapulse é uma tecnologia que foi introduzida no país pela Boston Scientific Brasil, líder global em dispositivos médicos. Foi também a primeira vez em Manaus (AM) — sendo a primeira cidade na região Norte do país a ter um procedimento exclusivo para o tratamento da fibrilação atrial.
Com mais de 200 mil pacientes tratados em todo o mundo, a tecnologia chegou ao Brasil em junho de 2024, com os primeiros procedimentos realizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Agora, com essa iniciativa, o objetivo é ampliar o acesso ao tratamento da fibrilação atrial, alcançando pacientes em mais estados, especialmente em centros públicos.
Referência
O FHCFM foi adotado pelo Governo do Amazonas como o centro de referência para o tratamento de doenças e condições relacionadas ao coração. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), desde 2019 a fundação zerou as filas para cirurgias pediátricas. Além disso, destaca-se o alto investimento no parque tecnológico e a ampliação dos serviços, o que resultou na redução do tempo de espera por procedimentos, além da capacitação das equipes que atuam no hospital, que também vem passando por uma grande reforma.
Em maio, o hospital se tornou o único da região Norte do Brasil a participar do projeto Congênitos, do Ministério da Saúde e do Hospital HCor, de São Paulo. A ideia da iniciativa é impulsionar o desenvolvimento de centros especializados no país. A diretora do hospital, Roberta Nascimento, diz que a escolha do Francisca Mendes pelo Ministério da Saúde, para estar à frente do projeto, é resultado de muito trabalho e união de esforços. “Nós participamos de uma seleção com 18 estados. Nos tornamos aptos devido às nossas estatísticas e ao trabalho realizado, desde 2019, pelo Governo do Amazonas, em que conseguimos zerar a fila de cirurgias cardíacas pediátricas e atender pacientes dentro dessa linha de referência”, destacou.
*Fonte: Acrítica
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