Coordenadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas dos Brics, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) trabalha por um alinhamento dos esforços de pesquisas sobre vacinas nos países do grupo, para que sejam direcionadas a assegurar o acesso das populações do Sul Global.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, o presidente da fundação, Mário Moreira, conta que a necessidade de reagir como bloco ficou clara quando, na pandemia de covid-19, a escassez de suprimentos indispensáveis fez com que os países ricos monopolizassem as compras e deixassem os mais pobres sem suprimentos.
Um indicador que exemplifica a avaliação do presidente da Fiocruz foi o número de vacinas aplicadas até o terceiro ano da pandemia, em 2023. Em todo o mundo, mais de 13,2 bilhões de doses haviam sido aplicadas até março daquele ano, e menos de 1 bilhão dessas doses foi usada na prevenção das populações do continente africano.
Segundo a plataforma Our World in Data, que monitorou dados sobre a pandemia em todo o mundo, os países de renda alta e média alta conseguiram atingir a marca de uma dose aplicada por habitante em agosto de 2021. Os países de renda média baixa, por sua vez, chegaram a esse patamar em fevereiro de 2022. Já os países de renda baixa chegaram ao fim da emergência em saúde pública global, em maio de 2023, com apenas 40 doses para cada 100 habitantes.
A cooperação entre os Brics também é mais um passo para efetivar a coalizão global para o desenvolvimento e a produção local de vacinas, proposta pela presidência do Brasil na Cúpula do G20, no ano passado.
A expectativa é que os países firmem também acordos para garantir o financiamento dessas inovações: "Esse é o tema da hora: como esse novo multilateralismo, ou o que eu chamo de coalizão dos interessados, pode se sustentar. E aí o Banco do Brics é importantíssimo, assim como os grandes doadores internacionais e as grandes agências como a Rockefeller, Bill e Melinda Gates Foundation e etc". Moreira também destacou a possibilidade de criação de um novo órgão multilateral para o financiamento científico.
O presidente da Fiocruz acrescentou que o Brasil, representado pela Fiocruz, assumiu a liderança da iniciativa de vacinas pela robustez do seu sistema público de vacinação e de produção de imunizantes e também pela sua "reconhecida tradição em cooperações estruturantes". "O Brasil já tem um acúmulo muito grande de cooperações com a América Latina e também com a África, sobretudo com os países de língua portuguesa, e que, agora, estamos ampliando, com a assinatura de acordos pela Fiocruz, em alinhamento estreito com as orientações do governo brasileiro".
*Fonte: Agência Brasil
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